Os nossos esforços para sermos corretos nos podem conduzir ao erro.
A
operação do Espírito, no coração humano, não é inconsciente nem
automática. A vontade e a inteligência humana devem ceder e cooperar
com as benignas intenções de Deus. Penso que é neste ponto que muitos
de nós se perdem. Ou tentamos nos tornar santos, e, então, falhamos
miseravelmente; ou, então, procuramos atingir um estado de passividade
espiritual, esperando que Deus aperfeiçoe nossa natureza, em santidade,
como alguém que se assentasse esperando que um ovo de pintarroxo
chocasse sozinho.
Trabalhamos febrilmente, para conseguir o impossível,
ou não trabalhamos de forma alguma. O Novo Testamento nada conhece da
operação do Espírito em nós, à parte de nossa própria resposta moral
favorável. Vigilância, oração, autodisciplina e aquiescência
inteligente aos propósitos de Deus são indispensáveis para qualquer
progresso real na santidade. Existem certas áreas de nossas vidas em
que os nossos esforços para sermos corretos nos podem conduzir ao erro,
a um erro tão grande que leva à própria deformação espiritual. Por
exemplo:
1. Quando, em nossa determinação de nos tornarmos ousados, nos tornamos atrevidos.
Coragem e mansidão são qualidades compatíveis; ambas eram encontradas
em perfeitas proporções em Cristo, e ambas brilharam esplendidamente na
confrontação com os seus adversários. Pedro, diante do sinédrio, e
Paulo, diante do rei Ágripa, demonstraram ambas essas qualidades, ainda
que noutra ocasião, quando a ousadia de Paulo temporariamente perdeu o
seu amor e se tornou carnal, ele houvesse dito ao sumo sacerdote:
“Deus há de ferir-te, parede branqueada”. No entanto, deve-se dar um
crédito ao apóstolo, quando, ao perceber o que havia feito,
desculpou-se imediatamente (At 23.1-5).
2) Quando, em nosso desejo de sermos francos, tornamo-nos rudes.
Candura sem aspereza sempre se encontrou no homem Cristo Jesus. O
crente que se vangloria de sempre chamar de ferro o que é de ferro,
acabará chamando tudo pelo nome de ferro. Até o fogoso Pedro aprendeu
que o amor não deixa escapar da boca tudo quanto sabe (1 Pe 4.8).
3) Quando, em nossos esforços para sermos vigilantes, ficamos a suspeitar de todos.
Posto que há muitos adversários, somos tentados a ver inimigos onde
nenhum deles existe. Por causa do conflito com o erro, tendemos a
desenvolver um espírito de hostilidade para com todos quantos discordam
de nós em qualquer coisa. Satanás pouco se importa se seguimos uma
doutrina falsa ou se meramente nos tornamos amargos. Pois em ambos os
casos ele sai vencedor.
4) Quando tentamos ser sérios e nos tornamos sombrios.
Os santos sempre foram pessoas sérias, mas a melancolia é um defeito
de caráter e jamais deveria ser mesclada com a piedade. A melancolia
religiosa pode indicar a presença de incredulidade ou pecado, e, se
deixarmos que tal melancolia prossiga por muito tempo, pode conduzir a
graves perturbações mentais. A alegria é a grande terapia da mente.
“Alegrai-vos sempre no Senhor” ( Fp 4.4).
5) Quando tencionamos ser conscienciosos e nos tornamos escrupulosos em demasia.
Se o diabo não puder destruir a consciência, seus esforços se
concentrarão na tentativa de enfermá-la. Conheço crentes que vivem em
um estado de angústia permanente, temendo que venham a desagradar a
Deus. Seu mundo de atos permitidos se torna mais e mais estreito, até
que finalmente temem atirar-se nas atividades comuns da vida. E ainda
acreditam que essa auto-tortura é uma prova de piedade.
Enquanto
os filósofos religiosos buscam corrigir essa assimetria (que é comum à
toda raça humana), pregando o “meio-termo áureo”, o cristianismo
oferece um remédio muito mais eficaz. O cristianismo, estando de pleno
acordo com todos os fatos da existência, leva em consideração este
desequilíbrio moral da vida humana, e o medicamento que oferece não é
uma nova filosofia, e sim uma nova vida. O ideal aspirado pelo crente
não consiste em andar pelo caminho perfeito, mas em ser conformado à
imagem de Cristo.
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