Cada
época requer sua própria maneira de testemunhar. A sentinela que é fiel
ao seu Senhor e à cidade do seu Deus precisa observar atentamente os
sinais dos tempos e dar ênfase ao seu testemunho, de modo apropriado.
Acerca do alerta que se requer no tempo presente, há bem pouca ou quase
nenhuma dúvida. Na seara do Senhor, existe um mal tão grosseiro e tão
atrevido em sua falta de pudor, que, dentre os homens espirituais, o de
menor visão dificilmente deixaria de perceber.
Durante os últimos anos, este mal tem se alastrado de uma maneira fora
do comum, mesmo para uma atividade maligna. Tem funcionado como
fermento; e, até agora, a massa continua crescendo. Em qualquer direção
que você olhe, a presença deste mal se faz manifesta. Há pouco, ou quase
nada, a escolher entre as igrejas, capelas ou encontros missionários.
Embora possam diferir em alguns aspectos, eles exibem uma semelhança
impressionante nos cartazes que abarrotam seus quadros de avisos.
Entretenimento para o público é a principal atração divulgada em cada
cartaz. Se qualquer dos meus leitores duvidar de minha afirmativa ou
considerá-la muito radical, que dê uma volta pelas igrejas da vizinhança
e olhe no quadro de anúncios da semana; ou que leia as divulgações
religiosas nos periódicos locais. Eu tenho feito isto vez após vez, até a
total comprovação do fato terrível de que o entretenimento tem
usurpado, como grande atração, o lugar da pregação do evangelho.
Concertos, divertimentos, bazares, sociais, esquetes — são as palavras
destacadas em letras grandes e cores surpreendentes. Os concertos
musicais têm sido crescentemente considerados como parte integrante da
vida da igreja, equiparando-se à reunião de oração, e, na maioria dos
lugares, têm sido bem mais freqüentados do que esta.
A menos que se levantem algumas vozes firmes que se façam ouvir, o
provimento de recreação às pessoas logo será visto como uma parte
necessária do culto cristão e como uma obrigação para a igreja de Deus, à
semelhança de um mandamento divino. Não presumo ser uma dessas vozes,
mas nutro a esperança de poder despertar outras que ecoem mais alto. De
qualquer forma, repousa sobre mim o peso do Senhor quanto a este
assunto, e submeto a Ele o fazer repercurtir o meu testemunho ou o
deixá-lo evaporar em silêncio. Em ambos os casos terei cumprido o meu
dever. Contudo, minha mente se enche da convicção de que, em todos os
lugares, existem homens e mulheres fiéis que enxergam o perigo e o
lamentam. Estes apoiarão meu testemunho e minha advertência.
Só durante os últimos anos o entretenimento tem se tornado uma
reconhecida arma de nosso combate e se desenvolvido a nível de missão.
Neste aspecto tem ocorrido uma constante decadência. Partindo de uma
posição contrária, como a dos Puritanos, a igreja vem amenizando,
gradualmente, suas objeções, ignorando e justificando as frivolidades
diárias. Então, elas têm sido toleradas no meio cristão, que agora as
adotou e providenciou-lhes lugar em suas atividades, sob o pretexto de
alcançar as massas e aproximar-se dos ouvidos do povo. Poucas vezes o
diabo tem feito coisa mais esperta do que dar à igreja de Cristo a
sugestão de que parte de sua missão é prover entretenimento, com o
objetivo de atrair pessoas às suas fileiras. A natureza humana, que
habita em cada coração, tem mordido a isca. Eis, agora, uma oportunidade
de se gratificar a carne e, ainda assim, manter uma consciência
tranqüila. Pode-se, agora, agradar a si mesmo, com a finalidade de fazer
o bem a outros. A rude e antiga cruz já pode ser trocada por roupas da
moda, e isto com o propósito benevolente de edificar as pessoas. Tal
quadro é muito entristecedor, e ainda mais porque pessoas
verdadeiramente sinceras têm sido levadas pelo pretexto ilusório de que
esta é uma forma de serviço cristão. Elas se esquecem de que um anjo de
aparência bela pode ser o próprio diabo, “porque o próprio Satanás se
transforma em anjo de luz” (2 Co 11.14).
Minha primeira argumentação é que em nenhum lugar das Sagradas
Escrituras é mencionado que uma das funções da igreja é prover
entretenimento ao povo.
Mais adiante, veremos quais são seus deveres, mas no momento estamos
tratando do lado negativo da questão. É certo que, se o nosso Senhor
tivesse planejado que sua igreja fosse provedora de entretenimento, para
neutralizar a ação do deus deste século, dificilmente teria deixado de
mencionar uma obra tão importante. Se este é um trabalho cristão, por
que Cristo não fez ao menos uma alusão a ele? A ordem “ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15) é suficientemente
clara. Se Ele tivesse acrescentado: “E providenciai entretenimento aos
que não apreciam o evangelho”, teria sido igualmente claro. Contudo, tal
complemento não é encontrado, nem qualquer expressão equivalente, em
nenhuma das declarações do nosso Senhor. Este tipo de serviço parece não
lhe ter ocorrido à mente. Em outra ocasião, Cristo, como Senhor
ressurreto, deu à sua igreja homens com qualificações especiais para a
continuação de sua obra, mas não mencionou qualificação alguma para o
referido tipo de serviço. “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do
seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Onde os
entretenedores do público entram? O Espírito Santo se cala a respeito
deles; e o seu silêncio é eloqüente.
Se prover recreação no culto faz parte do trabalho da igreja, certamente
poderíamos encontrar alguma promessa bíblica para encorajá-la em sua
laboriosa tarefa. Mas, onde encontrá-la? Há uma promessa sobre a
Palavra: “A palavra... não voltará para mim vazia” (Is 55.11). Há uma
declaração procedente de um coração exultante a respeito do evangelho:
“É o poder de Deus” (Rm 1.16). Há, também, para o pregador do evangelho,
a doce segurança de que ele é um aroma agradável a Deus (2 Co 2.15),
quer seja bem-sucedido, quer não — a julgar pelo que o mundo considera
ser sucesso. Há, ainda, a bem-aventurança aos que com seu testemunho, ao
invés de entreterem o mundo, despertam sua ira: “Bem-aventurados sois
quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,
disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que
viveram antes de vós” (Mt 5.11,12). Os profetas foram perseguidos por
que agradaram o povo ou por que se recusaram a entretê-lo? O evangelho
do entretenimento não produz mártires. É inútil alguém procurar por uma
promessa de Deus quanto à recreação [espiritual] para um mundo iníquo.
Aquilo que não tem autoridade da parte de Cristo, nem qualquer apoio do
Espírito ou promessa vinculada a si por intermédio de Deus, só pode ser
uma atividade hipócrita, quando reivindica ser uma faceta do serviço do
Senhor.
Continuando, prover entretenimento ao povo é algo diretamente antagônico ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos.
Qual deve ser a atitude da igreja em relação ao mundo, de acordo com o
ensino do Senhor? Rígida separação e oposição inflexível. Se, por um
lado, os lábios do Senhor jamais sugeriram o agradar o mundo, a fim de
conquistá-lo, ou o adaptar métodos ao gosto dele; por outro lado, é
constante e enfática sua exigência de desapego ao mundo. Ele apresentou
de forma objetiva o que os seus discípulos deveriam ser: “Vós sois o sal
da terra” (Mt 5.13). Sim, o sal! — não o algodão doce ou bolo com
recheio de creme, mas algo que o mundo estaria mais disposto a cuspir do
que a engolir com satisfação. Algo mais propenso a trazer lágrimas aos
olhos do que riso aos lábios.
As declarações são curtas e penetrantes: “Deixa aos mortos o sepultar os
seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus” (Lc
9.60); “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o
mundo vos odeia” (Jo 15.19); “No mundo, passais por aflições; mas tende
bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33); “Eu lhes tenho dado a tua
palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo” (Jo 17.14);
“O meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36).
É difícil serem conciliadas estas passagens com a idéia moderna de que a
igreja deve prover entretenimento aos que não têm inclinação para as
coisas mais sérias — em outras palavras, agradar o mundo. Se esses
textos trazem quaisquer ensinamentos, não são outros senão estes: que a
fidelidade a Cristo suscitará a ira do mundo e, que Cristo tencionava
que seus discípulos compartilhassem com Ele o escárnio e a rejeição do
mundo. Como Jesus agia? Quais eram os métodos da única testemunha
perfeitamente fiel que o Pai já teve?
Visto que ninguém questionará que Jesus tinha como alvo o ser modelo
para seus servos, vamos observá-Lo mais demoradamente. Como é
significativo o relato introdutório dado por Marcos! “Depois de João ter
sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o Evangelho de Deus,
dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no Evangelho” (1.14,15). No mesmo capítulo,
respondendo ao aviso dado pelos discípulos de que todos O buscavam, nós O
encontramos, dizendo: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a
fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim” (v. 38).
Em Mateus, nós lemos: “Ora, tendo acabado Jesus de dar estas instruções a
seus doze discípulos, partiu dali a ensinar e a pregar, nas cidades
deles” (11.1). E, em resposta à pergunta de João — “És tu aquele que
estava para vir?” (Mt 11.3) — Ele disse: “Ide e anunciai a João o que
estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são
purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres
está sendo pregado o evangelho” (Mt 11.4,5). Não faz parte deste
relatório qualquer item do tipo: Os desinteressados recebem
entretenimento, e os que estão perecendo são providos de recreação
inocente.
Não somos deixados em dúvida quanto à substância de sua pregação, pois
lemos: “Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta
eles achavam lugar; e anunciava-lhes a palavra” (Mc 2.2). Não houve
mudança na metodologia adotada pelo Senhor, durante o curso de seu
ministério; nem veio Ele a aprender, pela experiência, um método melhor.
Sua primeira ordenança aos seus evangelistas foi: “E, à medida que
seguirdes, pregai” (Mt 10.7); e sua última ordem a eles: “Pregai o
evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Evangelista algum jamais sugeriu
que, em qualquer tempo de seu ministério, Jesus tenha deixado a pregação
para entreter as pessoas, com o propósito de atraí-las. Ele tinha uma
seriedade diligente, e assim era o seu ministério. Se tivesse sido mais
flexível e inserido elementos atrativos em sua missão, Ele teria sido
mais popular.
Contudo, na ocasião em que muitos de seus discípulos voltaram atrás, por
causa da natureza penetrante de sua pregação, não observamos que houve
qualquer tentativa de aumentar o número daquela reduzida congregação,
valendo-se de algo mais agradável para a carne. Tampouco o ouvimos
dizer: Precisamos manter a audiência, de qualquer maneira. Então, Pedro,
corre em busca daqueles amigos e diz-lhes que amanhã teremos um tipo
diferente de culto — uma reunião muito breve e atrativa, com pouca ou
talvez nenhuma pregação. Hoje o culto foi dedicado a Deus, mas amanhã
teremos uma noite agradável dedicada ao povo. Diz-lhes que certamente
irão gostar e terão momentos aprazíveis. Vai, rápido, Pedro! Precisamos
ganhar o povo a qualquer custo. Se não for pelo evangelho, então que
seja pela tolice. Não! Não foi assim que Ele argumentou. Fitando com
tristeza os que não quiseram dar ouvidos à Palavra, simplesmente
voltou-se para os doze e lhes perguntou: “Quereis também vós outros
retirar-vos?” (Jo 6.67).
Jesus sentia dó dos pecadores, apelava para eles, lamentava por eles, os
advertia, pranteava por eles, mas nunca buscou diverti-los. Quando as
sombras do entardecer da sua vida consagrada estavam se aprofundando na
noite da morte, Ele reviu seu santo ministério e encontrou conforto e
doce consolo no pensamento: “Eu lhes tenho dado a tua palavra” (Jo
17.14). Os discípulos agiram como o Mestre – o ensinamento deles é um
eco do ensinamento de Jesus. Em vão estudaríamos as epístolas a fim de
descobrir qualquer traço de um evangelho de entretenimento. O mesmo
chamado para a separação do mundo está em cada uma delas. “Não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos” é a ordem em Romanos
12.2. “Retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis
em coisas impuras” (2 Co 6.17) é o chamado das trombetas ao coríntios.
Em outras palavras, este chamado é: Retire-se – Permaneça fora –
Mantenha-se limpo, pois “que comunhão, da luz com as trevas? Que
harmonia, entre Cristo e o Maligno?” (2 Co 6.14,15)
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o
mundo” (Gl 6.14). Aqui está o verdadeiro relacionamento entre a igreja e
o mundo, de acordo com a epístola aos gálatas. “Portanto, não sejais
participantes com eles” (Ef 5.7). “E não sejais cúmplices nas obras
infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” é a atitude ordenada
em Efésios 5.11. “Filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração
pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,
preservando a palavra da vida” são as palavras em Filipenses 2.15,16.
“Mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo” diz a epístola aos
Colossenses (2.20 - ARC).
“Abstende-vos de toda forma de mal”, é a exigência em 1 Tessalonicenses 5.22.
“Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será
utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor” é a palavra
dada a Timóteo (2 Tm 2.21). “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial,
levando o seu vitupério” é a heróica intimação de Hebreus 13.13. Tiago,
com uma dureza santa, declara que “a amizade do mundo é inimiga de Deus”
(Tg 4.4). Pedro escreveu: “Não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo
aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o
vosso procedimento” (1 Pe 1. 14,15). João escreveu uma epístola inteira
sobre o tema: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se
alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no
mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba
da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa,
bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus
permanece eternamente” (1 Jo 2.15-17).
Aqui estão os ensinamentos dos apóstolos quanto ao relacionamento da
Igreja com o mundo. E ainda diante deles, o que vemos e ouvimos? Um
compromisso amigável entre os dois e um esforço insano de trabalhar em
parceria para o bem das pessoas. Deus nos ajude e dissipe a forte
ilusão. Como os apóstolos faziam seu trabalho missionário? Em harmonia
com seus ensinos? Deixemos que os Atos dos Apóstolos dêem a resposta.
A ausência de qualquer coisa que se assemelhe ao mundanismo dos dias de
hoje é notável. Os antigos evangelistas tinham confiança ilimitada no
poder do Evangelho e não usavam outra arma. O Pentecostes veio após uma
pregação simples. Quando Pedro e João estiveram presos durante uma noite
por pregar a ressurreição, a Igreja primitiva teve uma reunião de
oração. Quanto à libertação deles, a petição oferecida foi: “Agora,
Senhor... concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a
tua palavra” (At 4.29). Eles não tinham em mente orar: Concede aos teus
servos mais criatividade, de maneira que pelo sábio e característico uso
de passatempos, eles possam evitar a ofensa da cruz e mostrar docemente
a essas pessoas quão contentes e alegres somos.
A acusação feita pelos membros do Sinédrio contra os apóstolos foi:
“Enchestes Jerusalém de vossa doutrina” (At 5.28). Não há muita
probabilidade desta acusação ser levantada contra métodos modernos. A
afirmação: “Todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de
ensinar e de pregar Jesus, o Cristo” (At 5.42), descreve o trabalho dos
apóstolos. Claramente, não cessavam de ensinar e pregar, não tinham
tempo para organizar entretenimentos; eles se empenhavam continuamente
“ao ministério da palavra” (At 6.4). Dispersos pela perseguição, os
discípulos primitivos “iam por toda parte pregando a palavra” (At 8.4).
Quando Filipe foi à Samaria, houve motivo de “grande alegria naquela
cidade” (At 8.8). O único método registrado é “anunciava-lhes a Cristo”
(At 8.5). Quando os apóstolos visitaram o campo de trabalho de Filipe,
foi dito: “Eles, porém, havendo testificado e falado a palavra do
Senhor, voltaram para Jerusalém e evangelizavam muitas aldeias dos
samaritanos” (At 8.25). Quando acabaram de pregar, voltaram diretamente
para Jerusalém. É evidente que durante sua missão, eles não pensaram em
ficar e organizar umas noites agradáveis aos descrentes.
Naqueles dias, as congregações esperavam nada além da Palavra do Senhor.
Cornélio disse a Pedro: “Estamos todos aqui, na presença de Deus,
prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor” (At
10.33). A mensagem dada foi sobre palavras “mediante as quais serás
salvo, tu e toda a tua casa” (At 11.14). Causa e efeito estão
proximamente ligados em Atos 11.20,21: “Alguns deles, porém, que eram de
Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos
gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus. A mão do Senhor
estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”. Aqui vemos
o método deles – pregação. O assunto deles – o Senhor Jesus. O poder
deles – a mão do Senhor ao seu lado. O sucesso deles – muitos creram.
O que mais a Igreja de Cristo precisa hoje?
O relato sobre o trabalho conjunto de Paulo e Barnabé é “o Senhor, ...
confirmava a palavra da sua graça” (At 14.3). Quando numa visão, Paulo
ouve um homem da Macedônia dizendo: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At
16.9), ele indubitavelmente deduz que o Senhor o chamara a fim de pregar
o Evangelho às pessoas daquele lugar. Por quê? Como ele soube se a
ajuda necessitada era de iluminação para a vida deles por meio de um
pouco de entretenimento ou o refinamento de seus costumes por meio de
conhecimento fundamentado em diversão descompromissada? Ele nunca pensou
em tais coisas. Passa e ajuda-nos! Significava para Paulo: Pregue o
evangelho. “Paulo, segundo o seu costume, ali entrou, e por três sábados
discutiu com eles, tirando argumentos das Escrituras” (At 17.2 -
Tradução Brasileira). Perceba: eles discutiam não sobre as Escrituras, e
sim tiravam argumentos delas, “expondo e demonstrando ter sido
necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos...” (At
17.3). Esta era a forma do trabalho evangelístico naqueles dias e
parece ter sido maravilhosamente poderosa, pois o veredicto das pessoas
foi: “Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (At
17.6). Atualmente, o mundo está transtornando a igreja; esta é a grande
diferença.
Quando Deus disse a Paulo que tinha muita gente em Corinto, lemos: “E
ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de
Deus” (At 18.11). Evidentemente, Paulo concluiu que a única forma de
liderá-los era pela Palavra. Um ano e meio e apenas um método adotado.
Maravilhoso! Se estivéssemos naquela época, provavelmente teríamos uma
dúzia! Mas Paulo nunca considerou como parte de seu ministério o
arranjar coisas agradáveis aos incrédulos. Em seu aprisionamento e
enquanto viajava para Jerusalém, ele disse: “Porém em nada considero a
vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o
ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da
graça de Deus” (At 20.24). Este era todo o ministério que ele conhecia. A
última descrição que temos dos métodos deste príncipe dos evangelistas
revela concordância com tudo que aconteceu antes: “Desde a manhã até à
tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus, procurando
persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos
profetas... pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem
impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo”
(At 28.23,31). Que contraste com todo o lixo e absurdo agora praticado
no santo nome de Cristo! Que o Senhor limpe a igreja de todo entulho que
o demônio tem imposto sobre ela e nos traga de volta a métodos
apostólicos!
Por último, a missão do entretenimento falha absolutamente em efetuar o
fim desejado entre os não-salvos e causa estragos entre os
recém-convertidos.
Mesmo que tal missão fosse bem-sucedida, seria nada menos que errada. O
sucesso pertence a Deus; fidelidade às instruções dEle cabe a mim. Mas a
missão do entretenimento não é bem-sucedida. Teste-a pelos resultados e
descobrirá uma desprezível falha. Que seja usado o método provado pelo
fogo; o veredicto será a pregação da Palavra – que é o poder.
Mostre-me os convertidos ganhos pelo entretenimento! Comece com as
meretrizes e bêbados, com os quais o divertimento foi o primeiro passo
rumo à conversão deles! Deixemos que falem e testifiquem os zombadores e
negligentes, que agradecem a Deus pela igreja ter abrandado seu
espírito de separação e servi-los mesmo no meio de seu mundanismo.
Deixemos expressar sua alegria, os esposos, esposas e filhos que por
conta das Palestras Dominicais sobre Questões Sociais regozijam-se em um
novo e santo lar. Que as almas cansadas e sobrecarregas que encontraram
a paz através de concertos musicais não mais permaneçam em silêncio.
Deixemos os homens e mulheres que encontraram Cristo através de uma
reversão dos métodos apostólicos declararem e mostrarem a grandeza do
erro de Paulo, quando disse: “Decidi nada saber entre vós, senão a Jesus
Cristo e este crucificado” (1 Co 2.2). Não há voz ou qualquer outra
coisa para responder a estes desafios. A falha é equivalente à
insensatez e é tão grande como o pecado. Dentre os milhares com quem
tenho conversado pessoalmente, a missão do entretenimento não levou à
conversão verdadeira.
Agora observemos aqueles que, repudiando qualquer outro método, apostam
tudo na Bíblia e no Espírito Santo. São desafiados a produzir
resultados, mas não há necessidade. A aprovação de Deus é atestada pela
transformação de vidas. Por dez mil vezes, dez mil vozes estão prontas a
declarar que a simples pregação da Palavra foi, em primeiro e último
lugar, a causa de sua salvação.
E quanto ao outro lado da questão – quais os efeitos nocivos? Também são
insignificantes? Aqui darei meu testemunho tão solenemente como se
estivesse diante do Senhor. Por meio desse novo procedimento é difícil
ver um pecador salvo, e sim apóstatas. Repetidamente, crentes jovens e
às vezes aqueles mais experientes chegam até mim em lágrimas e me
perguntam o que fazer, porquanto perderam toda paz e caíram em pecado.
Muitas vezes tem sido feita a confissão: Eu comecei a pecar ao
freqüentar encontros de divertimentos mundanos patrocinados por
cristãos. Recentemente, um jovem de alma agonizante me disse: Eu nunca
pensei em ir ao teatro até que, numa pregação, meu pastor convenceu-me o
coração de que não havia mal em ir. Fui e tenho estado de mal a pior.
Agora sou um miserável apóstata, e ele é o responsável.
Quando jovens convertidos começam a esfriar, abandonam as reuniões de
oração e tornam-se mundanos, quase sempre descubro que o cristianismo
mundano é o responsável pelo primeiro passo decadente. O entretenimento é
usado pelo diabo como meio-caminho para o mundo. Por causa do que vi,
escrevo, de bom grado, com intensidade e vigor. O entretenimento traz
podridão à Igreja de Deus e destrói seu serviço ao Rei. Com aparência de
cristianismo, tal método realiza o próprio trabalho do diabo. Sob o
pretexto de sair a alcançar o mundo, ele carrega nossos filhos e filhas
para o mundo. Com o apelo: não sejam as massas alienadas com a rigidez,
ele está seduzindo os jovens discípulos “da simplicidade e pureza
devidas a Cristo” (2 Co 11.3). Professando ganhar o mundo, ele está
transformando o jardim do Senhor num parque de diversões. Para encher o
templo com aqueles que não vêem beleza em Cristo, é colocado na entrada
um porteiro cujo sorriso encobre espírito demoníaco.
Não é de admirar que o Espírito Santo, ferido e insultado, retire sua
presença, pois “que harmonia, entre Cristo e o Maligno?... Que ligação
há entre o santuário de Deus e os ídolos?” (2 Co 6.15,16)
“Retirai-vos do meio deles!” É o chamado de hoje. Santifiquem-se.
Retirem o mal do seu meio. Derrubem os altares do mundo e destruam seus
postes-ídolos. Recusem sua proposta de auxílio. Rejeitem a ajuda dele,
assim como seu Mestre liquidou o testemunho dos demônios, “não lhes
permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era” (Mc 1.34).
Renunciem todas as diretrizes do presente século. Pisem as armaduras de
Saul. Agarrem-se à Palavra de Deus; confiem no Espírito que escreveu as
páginas dela. Lutem sempre com esta arma e apenas com ela. Parem de
entreter e de tentar estimular. Evitem aplausos de um auditório
satisfeito e atentem para os soluços de um genuíno convertido. Desistam
de tentar agradar a homens quem têm apenas um sopro entre sua alma e o
inferno; e advirtam, supliquem e peçam como aqueles que sentem as águas
da eternidade cobrindo-os. Que a igreja mais uma vez confronte o mundo;
testifique contra ele; encontre com ele apenas atrás da cruz. E, assim
como o seu Senhor, a igreja superará e com Cristo compartilhará a
vitória.
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