C.H.
Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor
do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data
de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista
mensal chamada “Sword na Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos
Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente
na área devocional. Deixou um legado de vida piedosa, marcada por um
profundo amor ao Senhor Jesus Cristo e por dedicados esforços ara
alcançar almas perdidas.
Como Deus traz homens a Cristo? Os pregadores arminianos geralmente
dizem que Deus traz homens a Cristo por meio da pregação do evangelho. É
verdade; a pregação do evangelho é o instrumento para trazer homens a
Cristo, mas precisa haver algo mais que isso. A quem Cristo dirigiu
essas palavras? Ora, às pessoas de Cafarnaum, onde Ele pregava com
freqüência, onde Ele proferiu, com lamentação e tristeza, as maldições
da lei, bem como os convites do evangelho. Naquela cidade, o Senhor
Jesus havia realizado muitos sinais poderosos e diversos milagres. Na
verdade, Ele ministrou aos moradores de Cafarnaum tantos ensinos e
operou tantas confirmações miraculosas, a ponto de declarar que, se
Tiro e Sidom houvessem sido abençoadas com tais privilégios, há muito
teriam se arrependido em pano de saco e cinzas.
Ora, se a
pregação do próprio Cristo não foi proveitosa para tornar esses homens
capazes de vir a Ele mesmo, não é possível que a pregação do evangelho
fosse a única coisa idealizada por Deus para trazer os homens a Jesus.
Não, queridos irmãos, vocês têm de observar no- vamente: o Senhor Jesus
não disse que o homem não virá a Ele, se
o ministro do evangelho não o trouxer; e sim que se
o Pai
não o trouxer. Ora, existe o ser trazido pelo evangelho e pelo
pregador, sem ser trazido por Deus. É claro que Jesus estava falando de
ser trazido por Deus, o Altíssimo — a primeira Pessoa da gloriosa
Trindade —, enviando a terceira Pessoa, o Espírito Santo, para induzir
homens a virem a Ele, Jesus.
Alguém pode se levantar e dizer com
escárnio: “Então, você acha que Cristo traz os homens a Ele mesmo, vendo
que os homens não têm disposição para fazer isso?” Lembro-me de haver
conhecido um homem que disse: “Senhor, você pregou que Cristo apanha os
homens pelos seus cabelos e os traz a Si mesmo”. Perguntei-lhe se
podia lembrar o dia em que preguei um sermão contendo essa
extraordinária doutrina. Se ele pudesse lembrar, eu ficaria grato. Mas
aquele homem não pôde lembrar tal dia. Eu lhe disse que, embora Cristo
não traga ninguém a Ele mesmo, puxando-o pelos cabelos, creio que Ele
traz pessoas por meio do coração, fazendo-o de maneira quase tão
poderosa quanto aquela ilustração poderia sugerir.
Observem que no
trazer do Pai não há qualquer compulsão. Cristo nunca obriga qualquer
pessoa a vir a Ele contra a vontade dela mesma. Se alguém não quer ser
salvo, Cristo não o salva contra a vontade dele mesmo. Então, de que
maneira o Espírito Santo traz o homem a Cristo? Ora, Ele o faz tornando
o homem disposto. É verdade que o Espírito Santo não usa a “persuasão
moral”. Ele conhece um método mais fácil de alcançar o coração do
homem. O Espírito Santo vai às fontes secretas do coração e, sabendo
exatamente como, por meio de uma realização misteriosa, muda a direção
da vontade humana, de modo que, assim como Ralph Erskine o apresentou
de modo paradoxo, o homem é salvo “com pleno consentimento, contra a
sua própria vontade”; ou seja, ele é salvo contra a sua velha vontade.
Mas ele é salvo com pleno consentimento, pois Deus o tornou disposto no
dia do seu poder.
Não imaginem que qualquer pessoa irá ao céu
esperneando e gritando, em todo o caminho, contra a mão que o traz a
Cristo. Não imaginem que alguma pessoa será mergulhada no banho do
sangue de Cristo, enquanto se esforça para fugir de seu Salvador. Oh!
Não. É verdade que, antes de tudo, o homem não tem disposição de ser
salvo. Quando o Espírito Santo coloca a sua influência sobre o coração,
o teste se cumpre: “Leva-me após ti” (Ct 1.4). Seguimos, enquanto Ele
nos atrai, felizes por obedecer à voz que antes desprezamos.
Mas o
âmago deste assunto se encontra na transformação da vontade. Como isso
acontece, ninguém sabe. Esse é um daqueles mistérios que é percebido
de maneira mais evidente através dos fatos; contudo, ninguém pode
descrevê-lo, nenhum coração pode imaginá-lo. A maneira aparente em que o
Espírito Santo age, nós podemos dizer-lhe. A primeira coisa que Ele
faz, quando vem ao coração de uma pessoa, é esta: Ele a encontra
nutrindo uma excelente opinião a respeito de si mesma. Ora, o homem
diz: “Eu não quero vir a Cristo. Tenho uma justiça pessoal tão boa, que
qualquer pessoa pode desejá-la. Sinto que eu posso chegar ao céu
confiando em meus próprios direitos”. O Espírito Santo desnuda tal
coração, fazendo-o ver o câncer repugnante que está devorando sua vida;
descobre à pessoa todas as trevas e corrupção daquele recinto
infernal, o coração humano; assim, a pessoa fica horrorizada. “Nunca
pensei que eu fosse assim. Aqueles pecados que julgava insignificantes
se acumularam e atingiram uma proporção imensa. Aquilo que eu julgava
ser um montículo cresceu e se tornou uma montanha elevada; era apenas
um arbusto, agora é um cedro do Líbano. Oh!”, diz a pessoa a si mesma,
“tentarei reformar a minha vida; farei boas obras suficientes para
limpar completamente estas obras mortas”. Então, o Espírito Santo lhe
mostra que ela não pode fazer isso e remove todo o poder e a capacidade
ilusória da pessoa, de modo que ela se prostra, em seus joelhos,
clamando em agonia: “Oh! Pensei que poderia salvar a mim mesmo por meio
de minhas boas obras, mas percebo que,
Se minhas lágrimas jorrassem eternamente,
Se meu zelo não conhecesse
nenhum limite,
Tudo que fizesse pelo pecado
não o expiaria.
Tu, Senhor, e somente Tu,
podes salvar-me”.
Depois que o coração afunda, o
homem está pronto para entrar em desespero. E diz: “Nunca posso ser
salvo. Nada me pode salvar”. Neste momento, o Espírito Santo se
aproxima e mostra ao pecador a cruz de Cristo, outorgando-lhe olhos
ungidos com colírio celestial e declarando: “Olhe para aquela cruz, o
Homem que ali morreu salva pecadores. Você sente que é um pecador; Ele
morreu para salvá-lo”. Assim, o Espírito Santo capacita o coração a
crer e a vir a Cristo. E, quando o homem vem a Cristo, pelo amável
trazer do Espírito, encontra a “paz de Deus, que excede todo o
entendimento” e guarda sua mente e seu coração em Cristo Jesus (Fp 4.7).
Agora você percebe claramente que tudo isso pode ser feito sem
qualquer compulsão. O homem é trazido com tanta voluntariedade como se
não tivesse sido atraído. Ele vem a Cristo com todo o seu
consentimento, como se nenhuma influência secreta houvesse agido em seu
coração. Mas essa influência tem de ser exercida, pois, do contrário,
nunca haveria (nem haverá) qualquer pessoa que poderia ou desejaria vir
ao Senhor Jesus Cristo.
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